Disputa entre traficantes dos bairros Martinica e Santo Onofre espalha o medo pela região. O confronto, nos últimos quatro meses, já teria matado dez pessoas
Homicídios e ameaças preocupam moradores da Vila Onofre Foto: Andréa Graiz / Agencia RBS |
Há dois meses, quando os dias escurecem, a tensão toma conta dos moradores dos bairros Santo Onofre e Martinica, em Viamão. Inocentes estão em meio ao fogo cruzado entre pelo menos duas quadrilhas que disputam o terreno deixado aberto pelas "matriarcas do tráfico", presas em julho.
Desde abril, pelo menos dez mortes estariam relacionadas aos conflitos. Todos suspeitam quem são os envolvidos, mas ninguém fala. Temem também se tornarem alvos.
- Moro há mais de 20 anos aqui e era um lugar tranquilo, mas, de uns tempos para cá, nem saio mais para a rua. Enquanto o meu filho não entra em casa, todas as noites, voltando do serviço, eu não durmo - contou uma moradora, ainda abalada pela morte do jovem Bruno Pacheco de Lima, 17 anos, morador da região.
Jovem foi executado
O guri foi a mais recente vítima dos dias violentos naquela região. Ele foi atingido na cabeça por disparos vindos de um carro, quando estava com amigos na Rua Martinica, na noite de domingo.
Outro adolescente, ainda não identificado pela polícia, teria ficado ferido. Testemunhas afirmam que ele seria o alvo dos criminosos.
O risco de usar boné
Bruno estava frequentando o Eja noturno, não tinha antecedentes e, de acordo com a polícia, não era relacionado com a criminalidade.
- Ao que tudo indica, morreu de graça ou por engano - comentou o chefe de investigação da 2ª DP de Viamão, José Patriarca.
Para os moradores, a morte de Bruno diante da igreja do bairro foi a demonstração do código velado que passou a ser a regra do medo para quem circula entre a Martinica e o Santo Onofre.
- Aqui, depois das 18h ninguém é de ninguém. E se estiver usando boné e moletom com capuz, está liberado para levar tiro - relatou uma moradora, que prefere não ser identificada.
Clã virou o alvo da quadrilha rival
O capítulo mais sangrento das disputas aconteceu há duas semanas, quando três adolescentes foram mortos em uma chacina em um bar na Rua Narciso Goulart de Aguiar, Bairro Santo Onofre.
Era o primeiro golpe dos rivais para desarticular o império mantido até semanas antes pelas irmãs Eliza da Silva, 53 anos, e Jureni da Silva Moura, 49 anos. No sábado, mais um integrante da família foi eliminado: Daltri da Silva Moura, 32 anos, filho de Jureni.
- Com as prisões das duas mulheres, a área ficou sem comando, e os rivais começam a querer tomar conta - explicou o chefe de investigações, José Patriarca.
Fonte: Zero Hora